sexta-feira, 20 de julho de 2012

Algum lugar que só nos conheçamos.

Uma casa na cidade.

Uma porta para entrar, uma porta para sair, a mesma porta de viver. Duas janelas com vista para a alma, por onde uma brisa fria sempre consegue se esgueirar quando se está sozinho. Um quarto, pulsante, recebe luz do sol da meia-noite. Não se recebe visitas; ou se mora ou nunca se entra. Não dá para confiar em hóspedes. Tranque a porta antes de dormir, não destranque-a para sair. É mais fácil sair trancado em si. Muito mais fácil não se deixar afetar pelos seus vizinhos.

Uma casa no campo.

Várias portas, por onde todos querem sair, e por onde só entra quem está velho demais para não querer sair. Uma rede para as crianças cansadas depois do almoço, um balanço para os velhos cansados de serem jovens. Pastos verdejantes e águas tranquilas; sistema de refrigeração de alma. Poucas possibilidades de lazer, a não ser os verdadeiramente divertidos - aqueles que encontram diversão na própria existência ou na vida de outrem. Casa simples. Muito simples. Simples demais? Se quiser sair, saiba que provavelmente não vai voltar. Se tiver de sair, saiba que provavelmente vai querer voltar.

Uma casa em si, dentro de si.



Várias cicatrizes, paredes descascadas onde a cor da pintura não parece mais tão viva quanto antes. Cheiro de mofo onde várias goteiras pingam das janelas - aquelas, da alma - e se empoçam. A porta emperrou; para entrar agora é difícil, e mais difícil ainda de sair e expor-se. Ainda assim, você ainda tem a chave.

O mais interessante, meu bem, é que, mesmo com tantas casas, acabamos por escolher morar na rua, apenas para fugir da nossa pretensão de ter de se apegar a uma habitação. Apenas por medo de perdê-lo.

Se lar é onde nosso coração está, nossa casa é nossa mente.

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