terça-feira, 10 de julho de 2012

Noventa e nove balões vermelhos.

Alguém encheu o balão. O balão não se encheu sozinho, obviamente.



Entretanto, ninguém está segurando o balão. A pergunta, também óbvia, é: por quanto tempo esperaram ele com a janta?

Ele tinha um sonho simples: queria ser o garoto que mais encheu balões em sua cidade. Ele encheu um, e amarrou na relva. Encheu outro, e amarrou na relva. Chegou no décimo-quinto, e teve que soltar os balões da relva - afinal, a Terra podia sair voando. Amarrou os balões no braço, e encheu o vigésimo-sétimo. Então começaram a deixar o braço dele inchado, daí ele passou os balões para as costas - embora o trigésimo-nono tenha sido meio difícil.

Noventa e sete, e de vez em quando os pés dele não tocavam o chão. Noventa e oito, e ele não notou, enquanto assoprava o balão, que ele já estava a alguns metros do chão. Ele amarrou o noventa e nove nas suas costas, contente, e partiu para o centésimo, o honrado, seu sonho trazido à realidade.

Mas já estava muito longe do chão. Então, desesperado, ele amarrou o balão à relva, apenas pelo tempo suficiente para conseguir adaptar-se e passar o balão para suas costas. O último balão. O balão que lhe coroaria Rei do Bloco (quem sabe da Cidade, ou até mesmo Rei do Mundo. Rei do Universo, ou... Rei de Tudo, Tudo, Tudo). Porém já era tarde, e o garoto jamais pegou o último balão.

A tristeza de não realizar seu pequeno sonho obscureceu o fato de ele ter alcançado algo muito maior do que jamais sonhara. Ele não foi Rei do Mundo. Ele foi Rei das Estrelas, e seu filho cuidou de rosas em todo o espaço.

A tia dele chamou ele para jantar algumas vezes. Desistiram e eles comeram a parte dele do assado.

Até hoje o balão espera que ele volte.

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