segunda-feira, 16 de julho de 2012

Balão negro.

Eu tenho uma leve fixação com balões. Talvez nem tão leve. É uma fixação que se estende, se pretende e se entende por si só. Não tenho muita participação a não ser enchê-la de ar quente.

Não sei o porquê dela. Lembro de ser menor e sonhar uma vez que eu participava de uma corrida de balões. Havia centenas deles, e o céu, num laranja crepuscular, parecia que nos ia tragar. Eu era mais velho no sonho, mas, tipicamente, não conseguia discernir minhas feições. Eu sei que eu "acelerava" o balão e chegava primeiro, ganhava a corrida. O mais interessante, e o que eu nunca esqueci, foi o que o promotor do evento me falou quando foi me entregar o troféu.

"Toma esse troféu, mas ele é inútil" Ele me falou, rindo "O que importa mesmo é que você aprendeu o quanto longe e alto você pode chegar".



Eu não entendi o sonho na época (não que eu entenda agora. Mas é legal, às vezes, deixar subentendido que você é mais sagaz do que aparenta. Se bem que, ao escrever isso, eu acabo me sabotando. Meus parêntesis sempre me entregam.), mas o fato é que, talvez principalmente por isso, essa frase nunca tenha saído da minha cabeça.

É estranho pensar o quanto nós sempre estamos competindo, tentando sobrepor os outros: ter a melhor média nos estudos, ser o profissional mais eficiente, ser o namorado mais dedicado, ser mais... O que é extremamente estúpido, visto que é muito mais gratificante e útil - e potencialmente menos decepcionante se nós nos concentrássemos em ser.

É como uma grande corrida de ratos, onde todos querem chegar ao queijo primeiro, mas não há queijo nenhum. Ou talvez haja queijo para todos, não sei. Depende do que você acha, se o copo está meio cheio ou meio vazio. Eu sou daqueles que acham que o copo está meio, e pronto.

Essa ânsia de se tornar melhor que o anterior (o que automaticamente te faz pior que o próximo) é só um ciclo vicioso que não alimenta a nada a não ser a si mesmo, amargura e desapontamento. Alguém disse que ganhar não é chegar em primeiro, mas não chegar em último. Acho que é muito mais válido dizer que ganhar é chegar.

O que quero dizer (e tento me convencer que realmente quero dizer algo) é que numa corrida onde o final de todos é o mesmo (e teoricamente não é nem um pouco agradável), não faz sentido se adiantar. Numa corrida onde a linha de chegada é a morte, não tem porque ter pressa, nem querer ultrapassar o próximo.

Talvez isso tudo, inclusive a frase do promotor da corrida, faça algum sentido mais claro um dia, ou talvez não. Talvez eu tenha só dormido de barriga cheia aquela noite. Mas ainda assim...

Não sei você, mas eu não ignoraria uma criança que sabe pilotar um balão.

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